Não, senhor deputado, ser homem não é crime. O problema é que o tipo de ser que precisa gritar aos quatro ventos que é homem, é tudo, menos homem. E ali, sim, mora o crime.
Da grosseria cotidiana à agressão covarde, a violência contra mulheres segue acontecendo diante dos nossos olhos. No último fim de semana, uma monitora de estacionamento da nossa cidade foi agredida durante o expediente. Agredida por exercer seu trabalho. Ou seria por ser mulher? E se fosse um monitor?
É verdade que o método de cobrança e controle de estacionamento por aqui é questionável. Mas isso não justifica a agressão, nem verbal, nem física. Pessoas estão ali trabalhando, tentando garantir o salário no fim do mês, assim como eu ou como você. Se há algo errado, a cobrança deve ser direcionada a quem tem responsabilidade. Mas nunca, em hipótese alguma, com o uso de violência.
Assistir a cenas covardes como essa de violência gratuita em plena luz do dia por alguém que se diz homem, nos leva a um ponto incômodo: imagina o que esse tipo de cara não faz fantasiado de homem de família dentro de casa e com álibis como álcool, ciúmes e estresse. Sujeitos assim, são tudo, menos homens.
A masculinidade está completamente distorcida. Associamos “ser homem” à violência, ao domínio, a uma falsa ideia de superioridade que não tem lugar em uma sociedade justa. Além de absurdo, é perigoso. Se para ser homem eu preciso reduzir a mulher ao papel de inferior, me impor pela força, gritar, ameaçar, usar o corpo como arma e depois posar de “provedor” que aprendeu a respeitar, então me desculpe, prefiro ser planta. Esse tipo de homem eu não sou. E me recuso a ser.
Infelizmente, não creio que essa visão vá mudar tão cedo. Não só por conta desses “machos performáticos”, mas também porque muitas mulheres ainda reforçam esse modelo, aceitando e até exaltando essa postura de inferioridade como algo normal. E é aí que o problema se aprofunda.
Há ainda a hipocrisia do discurso de diversidade e inclusão. Fácil dizer que somos diversos. Difícil é respeitar quem é, de fato, diferente. Preferimos rotular, excluir, tratar com preconceito. Fingimos tolerância, mas na prática, empurramos para a margem aquilo que não se encaixa em nossos moldes. Enquanto agirmos com extremismo, continuaremos divididos entre opressores e oprimidos e, nenhum diálogo floresce nesse cenário.
Não saber ouvir "não", não saber lidar com frustração, acreditar que tudo gira em torno de uma autoridade que nunca foi desafiada também é grande parte do problema. E assim seguirá se continuarmos a repetir esses padrões na educação dos nossos filhos e filhas. Precisamos criar homens e mulheres de verdade, ou seja, seres humanos para além do gênero. Seres com capacidade cognitiva superior à dos primatas que ainda insistem em habitar esse mundo, principalmente os parlamentos.
Precisamos combater a violência com urgência e firmeza. A sensação de impunidade precisa acabar. O respeito à vida, independente de gênero, precisa ser regra. A busca por poder e controle não faz de ninguém mais homem. Faz, no máximo, um tirano inseguro.
Portanto, senhor deputado, ser homem não é crime. O que sobram são crimes. O que faltam são homens.