Ser bom e justo é ser “a pedra no sapato”! 2z4n29
Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. A Liturgia da Palavra deste final de semana nos convida à confiança total em Deus, que é Pai e, como tal, cuida de seus filhos e, orienta-os na condução da vida e não os abandona. O salmista assim reza: “Quem me protege e me ampara é meu Deus. É o Senhor quem sustenta a minha vida! ” (Sl 53).
Caros irmãos e irmãs. A primeira leitura é tomada do Livro da Sabedoria, último livro escrito do Antigo Testamento. A leitura é do capítulo 2, que apresenta o pensamento e discurso dos injustos. Assim os injustos se manifestam: “Armemos ciladas ao justo, porque sua presença nos incomoda; ele se opõe ao nosso modo de agir, repreende em nós as transgressões da Lei e reprova nossas faltas [...]. Vamos pô-lo à prova com ofensas e torturas [...], vamos condená-lo à morte vergonhosa”, para ver se virá “alguém em seu socorro” (Sb 2,12.17-20). O texto faz ver que os injustos, pela força e violência, impõem a injustiça como norma que regula as relações humanas e sociais. Os justos os incomodam, sendo-lhes “a pedra no seu sapato!” Os justos se apresentam com um comportamento e uma ética diferente, não tendo nada em comum com eles. O texto faz ver que as pessoas ou mesmo uma sociedade que se baseia na mentira e na injustiça não am pessoas com práticas honestas, justas e corretas. Portanto, se queremos relações novas e uma sociedade nova, não podemos compactuar com pessoas e com práticas baseadas na mentira e na injustiça.
O texto do Evangelho (Mc 9,30-37) apresenta Jesus, com os seus discípulos, atravessando a Galileia e ensinando-os. O conteúdo deste ensinamento é o que costumamos chamar de “segundo anúncio da paixão”. Em Marcos, desde o início de seu ministério, Jesus veio enfrentando sérios conflitos com as autoridades judaicas (Mc 2,1-3,6), a ponto de fazerem um plano para eliminá-lo (Mc 3,6). Diante desta realidade, o Evangelho de Marcos mostra que o ministério de Jesus não é tarefa fácil. Aquele que pretende segui-Lo deverá tomar consciência disto e posicionar-se corajosamente. Ele mesmo havia dito: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mc 8,34). Jesus afirma que “o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens e eles o matarão” (Mc 9,31). O evangelista Marcos mostra que, com a vida do Justo – Jesus Cristo, Deus quer salvar os pecadores – os injustos. Porém, a morte não terá a última palavra sobre o destino de Jesus: “três dias após sua morte ele ressuscitará” (Mc 9,31). “Os discípulos não compreendiam estas palavras e tinham medo de fazer perguntas” (Mc 9,32).
Quando chegaram em Cafarnaum, estando “em casa”, Jesus perguntou-lhes o que eles haviam discutido pelo caminho. A discussão tinha sido a respeito de “quem era o maior” entre eles. Jesus “sentou-se”, atitude do mestre que ensina, e disse aos doze: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9,35). Significa que os discípulos imaginavam a comunidade dividida em classes diferentes, onde uns seriam privilegiados em detrimento dos outros. O ensinamento de Jesus inverte a lógica da sociedade, mostrando que o primeiro ou o maior é aquele que se coloca a serviço dos demais. É dessa forma que somos convidados a nos relacionarmos uns com os outros.
E Jesus concluiu seu ensinamento, tomando uma criança e colocando-a no meio deles: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou” (Mc 9,37). Desta forma, Jesus mostra o que é ser discípulo e o que é ser o maior dentro da comunidade. Maior é aquele que acolhe os marginalizados, injustiçados e por eles se interessa, dedicando-lhes tempo e vida. Assim, Jesus apresenta-se como o Messias servidor e nos desafia a viver o espírito do serviço, dando a vida pela causa do Reino.
Caros irmãos e irmãs. Não tenhamos medo de fazer a opção pela justiça e bondade, pois somente o justo é capaz de agradar a Deus. Portanto, “buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será acrescentado” (Mt 6,33).
Deus abençoe a todos e bom domingo.
Dom Adimir Antonio Mazali - Bispo Diocesano de Erexim - RS