Há 2 anos, nesta data, 27 de janeiro (Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto), participei em Auschwitz, Polônia, das comemorações pelos 75 anos da libertação do principal campo de extermínio construído pela Alemanha Nazista durante a 2a Guerra Mundial. Só no complexo de Auschwitz, mais de 1,1 milhão de pessoas foram assassinadas, 90% delas de origem judaica.
Relembrando o evento (foto), que contou com a presença de 200 sobreviventes do Holocausto, além de dezenas de chefes de Estado e representantes da imprensa internacional, sinto a mesma dor e angústia daquele momento. Contudo, hoje, devo dizer que me sinto ainda mais preocupado. Isso porque, no Brasil e no mundo, temos visto o ressurgimento/aumento de grupos neonazistas. Só em terras tupiniquins, por exemplo, há 530 núcleos neonazistas/extremistas, acréscimo de 270%, entre o início de 2019 e maio de 2021, conforme revela levantamento da antropóloga Adriana Dias.
Ou seja, temos entre nós milhares pessoas que pregam deliberadamente o ódio em suas diversas formas contra judeus, mulheres, negros, imigrantes, LGBTQIA+, e outros tantos. Esses criminosos - que restam sem punição pela falta de uma legislação clara e eficiente -, também negam o Holocausto, atrocidade que ceifou a vida de 6 milhões de seres humanos ente 1933 e 1945.
Em razão de minha atividade profissional, e do interesse que desenvolvi pelo tema, já tive a oportunidade de visitar outros campos de extermínio, museus e espaços de memória, na Polônia, Alemanha, Israel e outros países, além de entrevistar mais de 20 sobreviventes da Shoá, no Brasil e fora daqui – tendo lançado, em 2017, um romance (A Tenda Branca) baseado na vida de uma delas, a querida Gitta, que segue forte, aos 93 anos.
Os sobreviventes, entre tantos ensinamentos, me alertaram sobre algo aterrorizante, e que me toca fundo até agora: se o Holocausto aconteceu uma vez, ele pode acontecer de novo, eis que foi obra de homens e mulheres movidos por ideologias nefastas.
É essa preocupação/alerta que me faz seguir, seja dando palestras em instituições de ensino e empresas, escrevendo artigos, pesquisando e atuando como assessor voluntário do Museu do Holocausto de Curitiba/PR.
Como já escreveu meu nobre amigo, coordenador do Museu de Curitiba Carlos Reiss em sua necessária obra ‘Luz sobre o caos’, se o ‘Nunca Mais’ estiver apenas em Auschwitz, ele chega tarde. Devemos educar para que o ‘Nunca Mais’ seja dito diante do racismo, do discurso de ódio (do vizinho ou de personalidades públicas), do preconceito, da xenofobia, do antissemitismo. Que Auschwitz permaneça no horizonte distópico e que caminhemos para a direção contrária de onde ele está. Que barremos a possibilidade de Auschwitz educando contra o racismo e contra a indiferença. Afinal, como propunha o sobrevivente e prêmio Nobel, Elie Wiesel, o que permitiu o Holocausto não foi o ódio, mas a indiferença.
Que não sejamos indiferentes.
Que não fiquemos calados diante de injustiças, ameaças e perigos reais.
Não deixemos que o mundo fique cego e a memória se apague.
Sejamos, sim, propagadores do amor, do conhecimento, da empatia e do respeito entre os homens. Juntos, acredite, é possível construirmos um lugar melhor, hoje e para o futuro.