Todas as terças, sextas e sábados, no centro de Erechim, a Feira do Produtor abre suas portas para comercializar diferentes produtos fresquinhos que vem da agricultura familiar. São 33 pequenos produtores rurais que ofertam hortaliças, frutas, embutidos, queijos, entre outros alimentos.
A feirinha, como é conhecida, é o principal ponto de vendas para a maioria dos agricultores. Evando Paulo Cantelle, 51 anos, relata que “o bom daqui é que tudo é no dinheiro, nada de 30 dias, não tem troca de mercadoria, trazemos um produto bom e fresquinho e o cliente sai satisfeito”.
Quem a pelo local e leva os alimentos para casa sabe da procedência sustentável e orgânica de produção. Luciana Cristina Rosset, 42 anos, tem uma agroindústria de lácteos e o objetivo de vender na feira “foi pensando em agregar valor no leite e transformar a matéria-prima em produto, para ficarmos na roça e ganhar um pouco mais”.
Alimentos saudáveis e frescos
De acordo com o presidente da Feira do Produtor, Paulo Scherdien, o espaço busca entregar alimentos saudáveis e frescos aos consumidores. “É um grande benefício para o cliente que sabe que o produto que está levando para a sua casa é fresquinho e foi colhido no dia anterior. Muitos dos produtos são embalados na madrugada. A salada é um exemplo que o produtor vai dormir às 11h da noite e acorda às duas da manhã para preparar, porque não pode ser encaixotada um dia antes, tudo isso para estar aqui às seis da manhã para ser comercializada. Um produto mais fresco que esse só o cliente colher na própria propriedade. A gente é beneficiado ao vender o produto, mas o consumidor também é beneficiado por ter esse produto fresquinho na sua mão.”
Organização e trabalho
A profissão exige tempo, organização e muito trabalho. Nos demais dias da semana, quando os agricultores não estão expondo seus produtos, o horário precisa ser cumprido dentro da propriedade.
“Na segunda-feira preparamos para a terça. Na quarta, tiramos o dia para plantar, cuidar, limpar. Já na quinta, preparamos para o outro dia. Meu marido fica comigo até o meio-dia e depois ele vai para casa para colher produtos frescos para trazer no sábado, é basicamente essa rotina. Cada dia existem tarefas para fazer. Como viemos cedinho de manhã, colhemos no dia anterior que fica tudo fresquinho e limpinho e o produto dura para o cliente. É de qualidade”, explicou Marilei Paula Racoski, 43 anos, que produz hortaliças e flores, essa última ela também faz entrega em floriculturas e igrejas.
Para Jandir Pascuetti, 57 anos, o trabalho é um pouco diferente já que seus produtos são embutidos, como salames, linguiças, torresmo, banha, entre outros. “A produção é de segunda-feira a quarta-feira. Quarta e quinta até meio-dia é embalagem. Quinta à tarde e sexta-feira são feitas as entregas”
Segundo Pascuetti, aproximadamente 60% de seus produtos são vendidos na feirinha e parte da matéria-prima utilizada é produzida na fazenda da família. “Temos uma quantia, mas não é o suficiente, tem que ter demanda de fora”, contou Pascuetti.
Percalços
A mão de obra e as adversidades climáticas são os maiores desafios dos produtores rurais. Adair Pasquetti, 50 anos, só não aumentou seu empreendimento devido a falta de colaboradores. “Contratar uma mão de obra especializada não é fácil, por custos. Como somos só em dois, focamos na feira do produtor, produzimos e abastecemos só a feira. Não expandimos para outros locais porque não tem mão de obra para isso’’.
O mesmo cenário se apresenta para Jéssica Guarnieri, 33 anos. “Não dá pra abraçar muita coisa para fazer mais ou menos. Preferimos fazer menos e fazer bem ajeitadinho”.
Diante das dificuldades, poder entregar o alimento para outras pessoas traz orgulho aos agricultores. “Nós traz muita satisfação poder colocar o alimento na casa do cliente, isso é muito satisfatório e a geração que está por vir, vai pensar igual nós”, comentou o presidente da Feira do Produtor.
Conforme Paulo Scherdien, com o avanço da tecnologia para o setor agrícola, também trouxe a exigência de melhores frutas, verduras, temperos e condimentos. “Já somos uma geração mais fraca do que nossos pais e nossos avós, temos a modernidade que nos ajuda, como o trator, antigamente se puxava tudo nas costas. E junto com isso, vem a exigência do cliente por um produto mais bonito, que vai te dar um custo maior para produzi-lo”.
Ser agricultor
Quando questionados sobre o que representa ser agricultor, Evando Cantelle, que se desloca de Barão de Cotegipe para Erechim transportando seus alimentos, não hesita em responder. “É minha vida, eu nasci no meio da agricultura e não pretendo sair de lá. Eu só sei fazer isso, não sei fazer outra coisa senão produzir alimentos e é um prazer muito grande estar ofertando frutas e produtos maravilhosos para os clientes se sentirem satisfeitos. É uma honra ser agricultor”.
Jéssica Guarnieri, terceira geração da família a dar continuidade na Vinícola Dom Alfredo, diz emocionada o quanto é importante estar no campo fazendo o que gosta. “É colher o pão de cada dia. É muito gratificante. Quando está no sangue não tente mudar porque não vai dar. Tentei mudar, mas não deu. Voltei para casa e estamos tocando. Lá é meu lugar”.