Outro dia, enquanto dirigia, presenciei um acidente. Uma mulher tentava atravessar a faixa de pedestres quando um motociclista, apressado, não conseguiu frear a tempo. O impacto foi imediato, e em segundos, sua vida se esvaiu ali mesmo, no asfalto. A cena ficou comigo: o motociclista em pânico, os socorristas tentando ao máximo reanimá-la e pedestres indo e vindo continuando sua vida.
Vivemos na era da pressa, onde os minutos são medidos em compromissos, as pausas parecem desperdício e a convivência vira pano de fundo para tarefas inadiáveis. Corremos tanto para dar conta de tudo que esquecemos de dar conta do essencial: o outro. Em casa, talvez alguém esperasse por aquela mulher – um filho que precisava de um abraço, um marido que queria ouvir sobre seu dia, amigos que planejavam um encontro. Agora, todos esses momentos foram roubados pelo tempo que não soube esperar.
O sociólogo Zygmunt Bauman falava sobre a "modernidade líquida", onde tudo é fugaz e volátil, inclusive os laços humanos. O filósofo Byung-Chul Han alerta que a sociedade do desempenho nos empurra para um estado de exaustão, onde estamos sempre ocupados, mas nem sempre presentes. E Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, ensinou que o sentido da vida está na relação com o outro, na troca de amor e presença genuína.
Mas como recuperar o que já se foi? Talvez não possamos, mas podemos, ao menos, escolher diferente daqui em diante. Podemos desligar o celular durante o jantar. Olhar nos olhos de quem fala conosco. Dizer mais "eu te amo" sem motivo. Porque um dia, as vozes que hoje tentamos escutar entre e-mails e notificações deixarão de soar, e o que restará será o arrependimento pelo que não foi vivido.
O semáforo abre e fecha muitas vezes. Mas nem sempre teremos tempo de voltar para corrigir o que deixamos ar.