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Expressão Plural 226c71

De outros carnavais 5j1960

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Gerson Egas Severo
Por Gerson Egas Severo
Foto Arquivo Pessoal

O primeiro trabalho de Chico Buarque já tinha uma canção de carnaval, tu sabias? É o compacto simples (dizia-se assim, antes do moderno “single”) lançado no longínquo ano de 1965, que trazia “Pedro Pedreiro” de um lado e “Sonho de um Carnaval” do outro. “Sonho de um Carnaval” não era exatamente uma canção “de” carnaval, no sentido de ser tocada para se brincar o carnaval, mas uma canção sobre o carnaval, quer dizer, uma canção que tinha o carnaval como tema. O jovem de apenas vinte e um anos de idade (se bem que vinte e um anos em 1965 não era o mesmo que vinte e um anos hoje – idades também são históricas) estreava apresentando suas armas, já, mesmo lido em retrospectiva, mostrando-se o intérprete do Brasil que viria a ser nos anos subsequentes e nas próximas décadas – e até hoje.

O caro leitor/a lembra-se de “Sonho de um Carnaval”? O primeiro verso é assim: “Carnaval, desengano/ Deixei a dor em casa me esperando/ E brinquei e gritei e fui vestido de rei/ Quarta-feira sempre desce o pano”. Composta em dó maior, a canção, porém, é cheia de notas menores – o que confere uma melancolia, uma tristeza, à sua parte instrumental, que acompanha a letra. Carnaval, desengano. Essas duas palavras juntas. O Carnaval é igual a desengano? É uma ilusão? É: saio vestido de rei, mas antes deixo a dor em casa – me esperando. Dispo-me da dor para vestir-me de rei, mas a quarta-feira irá chegar. O carnaval é um teatro? Sim, porque a quarta-feira “desce o pano”.

E o segundo verso? “Carnaval, desengano/ Essa morena me deixou sonhando/ Mão na mão, pé no chão e hoje nem lembra não/ Quarta-feira sempre desce o pano”. Entre as reafirmações de que o carnaval é um desengano e a de que a quarta-feira virá, um sonho, o lampejo de um amor e o esquecimento, a desmemória. Segue-se o refrão: “Era uma canção, um só cordão, uma vontade/ De tomar a mão de cada irmão pela cidade”. O ânimo se ergue: temos agora o sentimento solidário de estarmos juntos/as em uma festa. A dor havia sido deixada em casa, não havia? Estamos agora vestidos de rei, não estamos? Mas o ânimo e o sentimento solidário decaem: o refrão é rápido, e desaparece novamente em notas menores. Deixa, no entanto, uma diferença: a palavra desengano é trocada por “esperança”. Sermos uma canção, um só cordão – como o de Vandré, mais tarde -, uma só vontade, trouxe uma lição.

“Carnaval, esperança/ Que gente longe viva na lembrança/ Que gente triste possa entrar na dança/ Que gente grande saiba ser criança”. Como o Pedro de “Pedro Pedreiro”, o sujeito da canção é um imigrante, possivelmente nordestino: que a gente que ficou lá, longe, esteja viva em minha lembrança. É um rezo, um mantra: “Que...”. Que gente triste, a gente brasileira, los de abajo, possa entrar na dança, possa ter finalmente sua redenção, e que gente grande saiba ser criança – ainda que o fantasma, o bicho-papão da quarta-feira, e outros, nos assombrem: eles virão e descerão o pano. Esse último verso se repete até o fim.

Em Chico Buarque, o sonho de um carnaval é o sonho de um país. O carnaval, desengano; ou esperança? A canção, triste. E os fantasmas, não exorcizados.

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