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A última oração de Francisco 3m1e3e

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Mauro Falcão
Por Mauro Falcão, escritor brasileiro - E-mail: [email protected]
Foto Mauro Falcão

A morte do Papa Francisco não representa apenas a partida de um pontífice. É o silêncio que se segue a uma voz que ousou quebrar o silêncio. Sua existência foi uma súplica estendida ao mundo — e sua última oração talvez não tenha sido pronunciada com palavras, mas com a coragem de ter vivido sem temer o desconforto de ser verdadeiro.

Desde o instante em que escolheu o nome Francisco, Bergoglio indicava o rumo que desejava seguir — e também o preço que estava disposto a pagar. Invocava, com esse gesto, o espírito de Francisco de Assis, o Santo que abandonou o poder para abraçar os leprosos, ouvir os pássaros e reconstruir a Igreja com as pedras do afeto e da pobreza.

Como aquele de Assis, também falou com os humildes, com os esquecidos, com os que a própria religião, por vezes, deixou à margem. Mas diferente de tantos que o precederam, ele se ajoelhou diante dos dilemas do nosso tempo, sem se esconder atrás das muralhas da tradição. Falou sobre o meio ambiente, sobre a desigualdade, sobre a dignidade dos marginalizados. Enfrentou o escândalo dos abusos com dor visível, reconhecendo feridas que a instituição ocultou por séculos. Foi duramente criticado por dentro e por fora — e seguiu em frente, com a serenidade dos que já não pertencem a si mesmos.

Sua liderança não se assentava no conforto da unanimidade, mas no risco da verdade. Enquanto o mundo se dividia em polos que se atacavam, Francisco escolheu a ponte, e ou ser contestado por não ser extremista o suficiente para nenhum dos lados. Carregou o peso da incompreensão como cruz discreta. E sua força estava justamente ali — em não se defender. Em amar também aqueles que o atacavam.

Ele sabia que ser Papa não é preservar uma imagem, mas expor-se ao mundo como altar, onde a fé, a dúvida, o amor e a contradição coexistem. Não era infalível — e não queria parecer. Sua santidade estava na escuta, na dúvida assumida, no gesto que se adianta à regra. No meio de uma Igreja cansada de máscaras, ele ofereceu um rosto.

A humanidade, muitas vezes, espera dos líderes religiosos uma perfeição imóvel. Francisco, ao contrário, nos mostrou a beleza do movimento, do tropeço, da reavaliação constante. Preferia o caminhar sincero ao trono dourado da aparência, orando sem mentir.

Seu maior legado é a postura espiritual: não ter medo de ser criticado por ser justo. Seu exemplo nos lembra que a fé viva não se protege do mundo — se envolve com ele. Não fecha os olhos à dor — caminha com ela. Agora, Francisco silencia. E no lugar de sua voz, ecoa uma vibração sutil, mas inconfundível do início de nossa escuta. Que o mundo aprenda, com ele, que ser luz não é brilhar — é iluminar os outros.

Amém

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