Viver acelerado parece ser o padrão.
Acordar com pressa, correr para reuniões, responder mensagens enquanto almoça, pular de tarefa em tarefa como quem não pode ou não quer parar.
A dopamina corre solta, impulsionada por curtidas, metas batidas e listas intermináveis de tarefas riscadas.
É uma adrenalina sedutora, quase viciante. A sensação de produtividade nos embriaga, nos convence de que estamos vivos, ativos, eficientes.
Mas, será que estamos mesmo presentes?
Chegar a Fernando de Noronha foi como atravessar um portal.
Aqui, o tempo desacelera. Quase como uma clínica de reabilitação. Obriga ao “tratamento” de acalmar e exercitar o “não se importar”. Sem luxo, simples, rústico e sem precisar de nada disso.
O sinal de internet oscila e, em vez de ser um incômodo, vira um convite para lembrar de reduzir a ansiedade. Um convite ao “segurar as pontas”.
Comecei, quase sem querer, a entrar no ritmo do slow living. Conceito que sempre irei de longe, mas que parecia incompatível com meu cotidiano eletrizante.
De repente, o silêncio da manhã tem mais som.
A brisa e o vento me pegaram de jeito. Quase que assobiando uma playlist adequada ao momento.
As conversas ganham espaço, sem pressa.
A comida tem gosto, textura, cheiro. Não é só combustível, é ritual.
Entendi que slow living não é sobre lentidão por si só, não é exercício de preguiça, mas sobre momentos. É estar onde se está. É viver de verdade, sem precisar correr o tempo todo. É respirar com calma. É fazer menos, mas com mais sentido. É valorizar o tempo como um bem precioso.
Não sei se estou sob o efeito da “Janela de Overton”, mas pensar no equilíbrio pessoal e da natureza — entendendo o enorme desafio logístico que é abastecer a ilha de praticamente tudo — enfim, isso a a ter um significado… Aqui chamam de “Noronhe-se”.
Noronha lembra que há vida além da dopamina rápida. Que o prazer também pode vir da presença, da simplicidade, da lama nos pés, do barulho do mar nas pedras, da pausa…
Voltar à rotina será ótimo, claro. Mas levo essa lembrança viva: a de que é possível viver mais devagar, com mais calma mesmo no meio da correria — mesmo que alguns dias por ano. Porque desacelerar, às vezes, é a única forma de não se perder.
Slow living (conceito que aprendi aqui) é um estilo de vida que valoriza a calma nas atividades do dia a dia, em contraste com o ritmo acelerado da vida.
A ideia central é viver de forma mais consciente, aproveitando o momento presente, priorizando qualidade em vez de quantidade e buscando equilíbrio entre trabalho, lazer, saúde e relacionamentos.
Desacelerar a rotina, evitar o excesso de compromissos e multitarefas.
Conexão com o presente. Estar mais atento ao agora, praticando meditação sem ser meditação.
Consumo consciente, optando por produtos locais, sustentáveis e feitos com carinho e cuidado.
Simplicidade, reduzindo excessos materiais e simplificando a vida.
Acho que a posologia é em doses — quatro vezes ao ano.