Por trás da popularidade crescente dos bebês reborn, bonecas hiper-realistas que imitam recém-nascidos com impressionante perfeição, há mais do que simples iração estética ou hobby colecionista. Em alguns casos, o apego a essas figuras artificiais podem estar diretamente relacionados a um luto não elaborado, revelando dores profundas que exigem atenção especializada.
O luto complicado: quando a dor não a
Segundo a psicóloga Dra. Maria Emília Bottini, o luto mal elaborado, conhecido como luto complicado ou patológico, ultraa a dor esperada após a perda de alguém importante. Entre os sinais, estão tristeza persistente por meses ou anos, culpa exagerada, isolamento social e dificuldade de retomar a vida cotidiana. “É uma dor que não cicatriza e começa a paralisar a vida”, explica.
Substituição ou simulação? O lugar dos reborns
Algumas pessoas podem recorrer aos reborns como forma de manter, inconscientemente, um vínculo com um filho perdido, uma gestação interrompida ou uma maternidade frustrada. “O bebê reborn pode parecer um consolo, mas ao mesmo tempo, revela o vazio. Ele simula a presença do ausente, mas não o substitui. É um simulacro, não é o bebê que morreu”, alerta a psicóloga.
Quando o alívio vira sintoma
O uso de bebês reborn pode até ser terapêutico, se acompanhado por profissionais. No entanto, torna-se um sinal de alerta quando há prejuízos na vida funcional da pessoa: isolamento social, recusa em aceitar a perda, confusão entre realidade e fantasia (como levar o boneco ao médico) ou abandono de vínculos reais. “É preciso diferenciar consolo simbólico de fuga patológica da dor”, aponta Maria Emília.
A dor evitada não some, ela se transforma
A fixação nos reborns pode indicar uma tentativa inconsciente de evitar o enfrentamento da dor da perda. Em vez de realizar o processo do luto, a pessoa projeta emoções no boneco e alimenta um vínculo que deveria ter sido encerrado. “A dor não vivida se transforma em sintoma”, resume a psicóloga.
Quem está mais vulnerável?
Pessoas que enfrentaram perdas traumáticas (como morte de filhos ou abortos), que têm histórico de depressão, traumas, vínculos ansiosos ou pouca rede de apoio social, estão mais suscetíveis a desenvolver relações simbólicas intensas com os reborns. A idealização extrema da maternidade também é um fator de risco.
Acolher a dor: caminhos para elaborar a perda
Psicoterapia individual, grupos de apoio ao luto e, em casos mais severos, acompanhamento psiquiátrico, são os caminhos recomendados para quem enfrenta a dor da perda. “A função do tratamento é ajudar a integrar a perda na história da vida, sem negar a ausência nem viver prisioneiro dela”, diz Maria Emília.
Não se lida com a perda criando uma fantasia que trará mais vazio e mais sofrimento, mas enfrentando a mesma, dia após dia”, conclui a psicóloga.
Bonecos não substituem pessoas
Enquanto fenômeno social, os reborns podem tocar questões emocionais profundas, mas não substituem relações humanas nem encerram o ciclo do luto. “O luto precisa ser vivido, sentido e ressignificado. Não se lida com a perda criando uma fantasia que trará mais vazio e mais sofrimento, mas enfrentando a mesma, dia após dia”, conclui a psicóloga.