Pai do Miguel e do Gael, jornalista e escritor
As pessoas costumam dizer que amadurecemos ao longo do tempo. Não sei. Na verdade, eu não sei se gosto desse termo. Me parece que tudo o que amadurece, logo estraga. Prefiro pensar que evoluímos ao longo da vida. A evolução é contínua, mesmo que, inevitavelmente, a matéria apodreça com o tempo, nós, em essência, continuamos a nos transformar. Vez ou outra, temos o nosso momento borboleta.
Nesse processo evolutivo, enfrentamos inúmeros desafios, alguns bons e outros nem tanto. À medida que evoluímos, nosso vocabulário se enriquece e, não apenas em termos de dicionário. Após enfrentar minha maior dor, ei a compreender profundamente a palavra “ressignificar”. E, venho absorvendo esse conceito internamente, dia após dia, para além de uma simples palavra bonita para caber em um texto qualquer.
A data que deveria ser a mais feliz da minha vida, o nascimento dos meus filhos, também se tornou a mais triste. Enquanto um filho veio para os meus braços, o outro se tornou um anjo nos braços do Pai. Como lidar com um dia assim? Ressignificando. É fácil? Não. Nem um pouco.
Meu filho partiu um dia após o Natal e um dia antes do aniversário da mãe dele. Como fazer com que essas datas não se tornassem um peso ano após ano e continuassem ser momentos alegres e especiais, principalmente para eles dois? Ressignificando. Dói, mas cada ano fica menos pesado.
Antes de ter filhos, eu gostava daquela liberdade de chegar em casa e assistir a um filme ou a uma partida de futebol sem me preocupar com horários de banho, janta, mamadeira e sono. Como desestressar nos dias mais tensos? Ressignificando momentos. Há dias em que busco meu filho na escola e, no caminho, escolhemos um filme para assistir juntos. Em casa, preparamos um balde de pipoca e nos acomodamos no sofá. Nos divertimos e relaxamos.
Nem sempre as coisas acontecem como esperamos. Na verdade, a maioria das vezes, não acontecem. Cabe a nós escolher: frustração e lamentação ou ressignificado e aprendizado. Acredito que a primeira opção seja mais fácil, enquanto a segunda exige mais esforço, e nem todos estão dispostos a isso. Nem todos estão abertos ao novo.
Eu era feliz e sabia. Mas eu ainda posso ser e eu sei disso. Acredito que enxergar as possibilidades que a vida apresenta, acolhendo, mas também, enquadrando nossas expectativas, principalmente as frustradas, no seu devido lugar é um dos caminhos mais curtos para a felicidade diária. Porém, para isso é necessário ressignificar a nossa existência e, para ressignificar, é fundamental olhar a vida com olhos de ver e ouvir com ouvidos de ouvir.