Todos nós já amos por momentos em que parece que tudo dá errado: o celular some, o ônibus atrasa, o dinheiro falta, a saúde falha e as notícias ruins chegam em sequência. Chamamos isso de maré de azar. Do outro lado da moeda, há os períodos em que tudo flui: portas se abrem, oportunidades surgem e a sorte parece estar do nosso lado. Esse ciclo contrário é a maré de sorte. Mas o que determina a virada de uma para a outra? É o destino, o acaso ou algo dentro de nós?
Embora o acaso tenha seu papel, afinal, não controlamos tudo, a forma como enfrentamos os eventos influencia muito a duração e a intensidade dessas marés. Quando estamos em uma fase ruim, é natural ver tudo com lentes negativas. Contratempos parecem catástrofes e esse pessimismo pode nos fazer agir de maneira precipitada ou desanimada, prolongando a má fase. O inverso também é verdadeiro: em tempos bons, estamos mais confiantes, tomamos melhores decisões e enxergamos oportunidades até nos desafios.
Há muito de emocional nisso. Quando estamos desanimados, pensamos em desistir logo no primeiro obstáculo. Já quando estamos confiantes, enfrentamos dificuldades com mais coragem. A mesma situação pode parecer inável ou superável. Por isso, acredito que a virada de uma maré para outra começa, muitas vezes, na forma como decidimos reagir às circunstâncias.
Além disso, há a tal da persistência. Pessoas que conseguem atravessar longos períodos de dificuldade sem perder totalmente o ânimo muitas vezes são recompensadas com mudanças positivas inesperadas. Não porque "o universo resolveu recompensá-las", mas porque a persistência as manteve em movimento e elas continuaram tentando, mesmo sem garantias.
Há quem diga que nem a sorte nem o azar existam, e que tudo é resultado de uma preparação na hora de buscar oportunidades. O emprego ideal apareceu “por sorte” ou foi o resultado de um currículo bem preparado e de habilidades desenvolvidas ao longo do tempo? É claro que, quando um esforço é bem feito, o reflexo será positivo, mas há momentos em que a vida nos surpreende com eventos fora do nosso controle. Porque nem tudo depende apenas da atitude. Há azares reais, como uma doença repentina, e sortes que parecem inexplicáveis, como ganhar na loteria ou estar no lugar certo na hora certa.
No geral, a vida é feita de ciclos, e nenhuma maré é eterna. O que muda é a nossa capacidade de perceber quando é hora de remar com mais força ou, simplesmente, esperar a onda ar. Manter a calma durante a tempestade e a humildade durante o sol são duas virtudes essenciais para lidar com esses ciclos. Quem entende que tudo a, tanto o bom quanto o ruim, vive com e menos desespero.
Essas marés fazem parte da experiência humana e podem nos ensinar muito. O mar nunca para de se mover e temos que continuar navegando, mesmo quando o horizonte parecer distante.